Cannabis Hoje #71 ☘️ Querem tirar o seu direito de importar
Os riscos à 660 | Cannabis nas farmácias de manipulação | Na política | Letrux | Valentina Bandeira | Ciência psicodélica | Dona Onça | Xapa Xana (original) e mais
Olá olá! Tudo bem por aí?
Por aqui fuertes emociones. A essa altura no ano passado, eu voltava pra casa depois de um parto lindo e selvagem, voltava, pela 1ª vez, em família. Tive medo de perder o bonde da minha vida profissional, mas também o privilégio de viver um puerpério tranquilo (gracias a deusa), e consegui voltar à produção das reportagens com um mês de parida. Se você, leitora, for uma mãe querendo conversar sobre inseguranças, medos ou alegrias, pode me escrever, que tô adorando elaborar a maternidade em conjunto. É só responder a este email ;)
No fim de semana a gente comemorou o primeiro ano da nossa beba e revimos muita gente querida. Uma amiga veio de Mallorca só pra me ajudar com a produção da festinha — às 2am do dia da festa, e a gente na cozinha refazendo pela terceira vez a receita do bolo, chegamos à conclusão que os docinhos ok, a gente consegue fazer exitosamente em casa, mas bolo, minha amiga, bolo é melhor comprar, viu? Vale cada centavo.
Bem-vinda à 71ª edição do boletim que te informa e contextualiza sobre os avanços da cannabis e dos psicodélicos!
Importar medicamentos de cannabis é um direito conquistado pelos brasileiros que faz do marco regulatório de cannabis medicinal no Brasil um dos mais avançados do mundo. Infelizmente, essa via de acesso está sofrendo ataques diretos e indiretos que colocam em risco a continuidade do tratamento de mais de 260 mil pacientes (44% do número total) que importam seus medicamentos à base da erva no país.
Por um lado, o setor vive a insegurança sobre a taxação de medicamentos importados. Coisa que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, em entrevista exclusiva, me garantiu que não ocorrerá.
Por outro lado, o Sindusfarma protocolou na Anvisa um pedido para que o direito à importação seja revogado. O maior sindicato da indústria farmacêutica do país age para garantir o lucro das farmacêuticas que vendem seus produtos diretamente nas farmácias, mas não tem qualquer compromisso com a saúde dos pacientes que encontram na importação uma infinidade de produtos e fórmulas que não estão disponíveis para compra nas farmácias.
Esse debate não começa nem acaba hoje, portanto, se você tem uma posição sobre o assunto, chegou a hora de se manifestar. A minha proposta, por exemplo, é a de que a Anvisa faça uma pesquisa com os 260 mil pacientes, com o intuito de entender a eficácia e os riscos na experiência de quem se trata com medicamentos importados. Contra fatos, não há argumentos — nem os mais capitalistas.
Bora de news!
(mas antes) Nos vemos na ExpoCannabis Brasil, de 15 a 17 de novembro :)
☘️☘️☘️ cannabis hoje pod: notícias quentinhas comentadas por especialistas, papo de empreendedorismo e negócios com os empresários mais destacados do setor, e os bastidores do universo canábico brasileiro pelas figuras que mantém esse mercado aceso
Luciana Boiteux e Dário de Moura, ela foi candidata à vereança no Rio de Janeiro e ele, em Belo Horizonte, eleitos suplentes nesta eleição, falam sobre como a cannabis pode e deve entrar na política
Carol Pereira, especialista em redes sociais canábicas, dá a letra de como evitar o banimento nas redes, especialmente no Instagram
Luiz Borsato, diretor da NetSeeds, esclarece o patamar legal das sementes de cannabis no Brasil, que afinal, também são medicinais
Karol Dias, farmacêutica especializada em cannabis discute a proibição da Anvisa que impede que as farmácias de manipulação trabalhem com a erva
» Na 3ª temporada, o Cannabis Hoje Pod é apoiado por 8 marcas que são destaque em inovação e tecnologia nos seus nichos de atuação: Unyleya, USA Hemp, TriStar, Blis, Leds Indoor, Netseeds, aLeda e Gorilla
Essas marcas reconhecem o valor da comunicação responsável e do jornalismo de qualidade para apontar os caminhos do setor com informação e análise para normalizar o que um dia foi tabu «
CANNABIS NAS FARMÁCIAS DE MANIPULAÇÃO? SÓ SE O STF QUISER
Os Ministros do Supremo Tribunal Federal formaram maioria e decidiram que vão aplicar o entendimento de um processo ainda sem data de julgamento, que vai definir se, afinal, as farmácias de manipulação poderão trabalhar com a cannabis. Esse processo contesta a legalidade da Anvisa para o estabelecimento do veto, e tem tudo para ser favorável às farmácias.
Afinal, elas já têm o direito legal tanto de formular produtos alopáticos, vendidos nas farmácias tradicionais (o que inclui opioides e benzodiazepínicos, substâncias muitíssimo mais perigosas do que a cannabis), como de fazer combinações de moléculas que ainda não tenham sido feitas pela indústria.
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“QUANDO A PARANOIA BATE NA MINHA PORTA, NÃO ABRO”, Letrux
Talvez você já tenha ouvido a Letrux falando por aí sobre cannabis. Para ela, seria uma hipocrisia enquanto artista não se posicionar sobre o tema e fingir que nada está acontecendo. Hoje com 42, mantém o hábito de fumar maconha e comer special cookies quando quer preservar a voz dos danos da fumaça, assim como também adora experimentar outros produtos à base dessa planta cujos efeitos a ajudam a lidar com a ansiedade de ser uma artista independente, de ser uma tentante (termo que definem aquelas pessoas que estão tentando engravidar) e de viver num planeta caótico como a Terra.
Letrux se orgulha de não cair na paranoia e dá dicas espertas de como identificar o caso e cortar a bad. E também contou as experiências com psilocibina, que ela curte ritualizar em momentos especiais, não em qualquer festinha (a gata é do petit comitê), e do dom que tem de transformar o sofrimento.
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SERIA O NORDESTE A NOSSA CALIFÓRNIA?
Há tempos, o Nordeste vem sendo palco de avanços no universo canábico e psicodélico. Da chegada da maconha no Brasil, com o desembarque dos pretos escravizados que traziam as sementes de seu hervanário —a cannabis entre elas– e dos portugueses, que chegaram em navios feitos com cordas e velas de cânhamo, até os dias de hoje, com um forte cenário de pesquisa científica e associativismo, que, além do tradicional espírito de resistência, traz também um quê de inovação.
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“LSD EXPERIMENTEI, EXPERIMENTO E GOSTO, PRINCIPALMENTE NA NATUREZA”, Ronaldo Fraga
Ronaldo Fraga é zero deslumbrado com o mundo das drogas. Ele até faz um LSD de vez em quando, assim como também gosta de tomar o seu vinhozinho branco, mas não curte maconha e diz que cocaína é uma droga que ele caracteriza como baixo astral.
Essa distância de segurança das drogas ele justifica por ter ficado órfão ainda cedo e não ter pra quem correr caso o bicho pegasse, de modo que tratou de ser prudente. Experimentar LSD, aliás, é coisa recente, de uns anos pra cá, desde que um casal de amigos prometeu que ele muito provavelmente conseguiria ver muito mais cores e detalhes do que normalmente observa pelas lentes da sua miopia.
Ronaldo Fraga não só falou das suas experimentações e de seus preconceitos com as drogas, mas também sobre como é trabalhar com cânhamo no têxtil e de sua relação com o meio da moda, de onde se considera um outsider.
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FAZ SENTIDO USAR MÉTRICAS DA CIÊNCIA CONVENCIONAL PARA PSICODÉLICOS?
Ficou complicado para quem deseja, em pleno 2024, negar o potencial terapêutico dos psicodélicos. Mas apesar de tantas evidências e estudos científicos promissores, o fato é que os psicodélicos seguem proibidos no mundo inteiro, com algumas exceções de caso e substância.
A esperança da comunidade psicodélica no mundo inteiro era que o FDA autorizasse o uso do MDMA como medicamento nos EUA. Mas a resposta negativa não só deu um banho de água fria nos aficionados pela causa e nos investidores e empresas que apostaram milhões nesse mercado, como também botou todo mundo para pensar.
Afinal, faz sentido medir os resultados dos psicodélicos segundo os parâmetros da ciência convencional?
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VALENTINA BANDEIRA EM CRISE COM A MACONHA
Valentina Bandeira, a it girl do momento, anda querendo dar um tempo com a maconha, coisa que ela nunca fez desde que iniciou o hábito, ainda na adolescência.
Apesar de ser super produtiva, como apresentadora, atriz no ar na Globo, e faturando milhões em publicidade nas suas redes sociais, a influenciadora sente que a erva tem prejudicado o bom andamento da sua vida. A busca por equilíbrio no uso recreativo fez ela pensar inclusive em empreender no cannabusiness, mas não agora.
“Não tenho estofo suficiente para chegar e bancar e não ficar com estigma de maconheira, zona sul, lesada, playboy, branca, filha da puta que compra maconha de favelado, tá ligado? Acho que eu preciso de mais estofo antes pra não virar uma coisa pobre de discurso”, reflete.
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CUIDADO PARA NÃO RECREAR COM O MEDICINAL
Há dificuldade em determinar onde, afinal, termina o uso medicinal e começa o recreativo da maconha. Indo além, será que “recreativo” seria um termo certo? A proposta aqui é debatermos, entender o emprego de “recreativo” e das demais nomenclaturas que usamos para nos referir ao uso não medicalizado (ou não medicinal) da maconha, e quais os significados que carregam.
Uso recreativo, lúdico, adulto, social, terapêutico: as disputas estão em aberto no campo das terminologias canábicas.
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“NÃO UTILIZEI A CANNABIS NA COZINHA POR FALTA DE OPORTUNIDADE”, Janaína Torres
Janaína Torres observa o cotidiano da cidade de São Paulo passar pela janela do icônico Bar da Dona Onça, que ela abriu em 2008, e também vive intensamente o centro dessa megalópole desde a sua mais tenra infância. A gente bem que podia perguntar a ela sobre a transformação das drogas na vida social do centro de São Paulo que ela tanto vive e constrói. E foi o que a Breeza fez.
Além do fato de que a maconha virou coisa corriqueira, normalizada mesmo, Janaína notou que na Cracolândia, apesar do nome, a droga mais disseminada é o álcool. Numa das suas voltas pela região, levou os dois filhos adolescentes para que tivessem contato com esse espectro da realidade do uso abusivo.
A Dona Onça não fuma maconha, mas é favorável à legalização da erva, porque como ela mesma diz, não é preciso fumar pra entender que outras pessoas podem fumar. E, não, ela ainda não cozinhou com maconha, mas foi só por falta de oportunidade.
Nesse papo comigo, Janaína falou também sobre como ter sido eleita a melhor chef do mundo impactou a maneira como ela vê a si própria, abriu o coração sobre a separação conturbada com o também chef Jefferson Rueda, e analisou a recuperação de uma doçura que ela tinha esquecido lá atrás.
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O QUE O BRASIL TEM A ENSINAR E A APRENDER SOBRE CANNABIS MEDICINAL
O governo espanhol finalmente anunciou os detalhes da sua regulação para a cannabis medicinal. Além de um atraso de pelo menos cinco anos em comparação com o Brasil, as normas espanholas também são bastante restritivas: apenas neurologistas e oncólogos estarão autorizados a prescrever.
E a dispensação dos medicamentos à base da erva será realizada unicamente pelas farmácias hospitalares, nada de importação nem de acesso nas drogarias. A regulação espanhola, repleta de falhas, me deu vontade de comparar o acesso que os brasileiros têm com o de outras regulações pelo mundo.
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HISTÓRIAS XAPADAS DA XAPA XANA
Xapa Xana é a marca que virou sinônimo do produto. E por mais que seja lisonjeante, no caso específico de um lubrificante íntimo feito a base de maconha, num país onde a venda desse tipo de produto é ilegal, pode ser, na verdade, um problema.
Há poucos dias saiu em toda parte a notícia da prisão de um grupo no Distrito Federal que vendia um lubrificante canábico, um tal de Xapa Xana, mas não o original. Nesse texto esclareço a confusão (que nasceu, aliás, de um erro jornalístico) e aproveito pra contar as melhores brisas da Débora Mello, criadora do verdadeiro Xapa.
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“FUMAÇA E CACHAÇA É FUNDAMENTO, INCLUSIVE ESPIRITUAL”, Erica Malunguinho
Erica Malunguinho, a primeira pessoa trans a ocupar um cargo de Deputada no Brasil, é favorável à legalização da maconha, e defende que para além da regulação do uso medicinal, também é urgente a liberação do uso recreativo da erva, o que ela faz desde a adolescência e que a ajudou em um momento especialmente delicado: para recuperar o bem-estar pós-cirurgia de redesignação sexual, que fez na Tailândia há alguns anos.
Erica Malunguinho falou das suas experiências com a cannabis e da sua prática ritualística com a jurema sagrada, em cuja raíz está o DMT, substância psicoativa também presente na ayahuasca. De quebra, fez ainda uma análise das eleições municipais em São Paulo, onde a também trans Amanda Paschoal foi eleita vereadora com 108 mil votos como um fenômeno, segundo Malunguinho, típico da extrema direita.
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UM BRASILEIRO NO CENTRO DA PESQUISA PSICODÉLICA NA EUROPA
“Seja onde for, eu quero trabalhar mudando a política pública de drogas e facilitando terapias psicodélicas de uma forma sistêmica, ou seja, governamental”, promete o pesquisador Plinio Ferreira, de 36 anos, que deixou o Brasil há uma década para fazer doutorado em Londres, em seguida, um pós-doutorado no Imperial College London e em 2020 começou a colaborar com o Drug Science, um instituto de pesquisa e advocacy da ciência psicodélica baseado em Londres e dentre os mais respeitados na área. Vem ler o perfil ;)
Educann by Unyleya - Ecossistema da cannabis: novos horizontes para profissionais de saúde
A descoberta do sistema endocanabinoide na década de 90 abriu novas possibilidades na compreensão da saúde humana. Esse sistema, responsável por regular funções como sono, dor, humor e apetite, revolucionou a abordagem terapêutica, permitindo que profissionais de saúde repensassem o tratamento de diversas patologias. O uso da cannabis medicinal, com seus fitocanabinoides como o CBD e o THC, vem ganhando espaço e desafiando paradigmas dentro da medicina convencional. Para os profissionais de saúde, entender o ecossistema que envolve a cannabis é fundamental. Não se trata apenas do conhecimento sobre a planta, mas também das regulamentações, formas de prescrição, interações medicamentosas e das necessidades dos pacientes que buscam terapias integrativas.
Esse campo em expansão oferece oportunidades tanto para médicos, dentistas e enfermeiros quanto para farmacêuticos, psicólogos, veterinártios e nutricionistas. Profissionais especializados em terapias canabinoides podem atuar em clínicas, laboratórios, empresas de pesquisa e até no desenvolvimento de novos produtos. Além disso, a crescente demanda por soluções naturais e holísticas está impulsionando a pesquisa e o desenvolvimento de novos tratamentos à base de cannabis. Aqueles que se especializarem nesse ecossistema terão um diferencial no mercado, sendo agentes ativos na promoção de saúde e bem-estar em um setor em plena ascensão. (João Carlos Normanha Ribeiro, médico e coordenador dos cursos de cannabis da Unyleya)
CannaTech by Blis - Não tenha medo
Novas tecnologias estão redefinindo o acompanhamento de pacientes que utilizam cannabis medicinal, inaugurando um nível maior de precisão e personalização para os tratamentos. Dispositivos como pulseiras inteligentes e sensores de monitoramento estão surgindo como alternativas para registrar dados contínuos sobre o estado de saúde dos usuários, como frequência cardíaca, qualidade do sono, níveis de estresse e até dor. Segundo a New Frontier Data, essa coleta de informações em tempo real possibilita uma compreensão mais detalhada dos efeitos da cannabis medicinal e como ela impacta o bem-estar geral do paciente.
Apesar de gerar desconfiança nos mais tradicionalistas, a tecnologia bem empregada pode ajudar a definir protocolos mais precisos, ajustando dosagens e recomendando mudanças com base em dados concretos. Do desenvolvimento de produtos ao monitoramento da eficácia dos tratamentos, quanto mais dados e informações forem gerados, mais relevante se tornará o setor. Nessa ótica, ir contra avanços tecnológicos é como promover o retrocesso e patrocinar a inércia. Embora o Brasil ainda esteja nos estágios iniciais da adoção tecnológica no universo da cannabis, a vocação criativa da nossa população pode surpreender ao se tornar protagonista na criação de novas soluções. Cabe a nós dar espaço para as novas ideias e superar o natural medo do novo.
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Beijos e até mais ;)